segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

VAI

"...o que vês,
escreve-o num livro,
envia-os às 7 igrejas..." apoc 1,11

Estou com uma luz piscante há tempos ali, nalgum lugar entre as orelhas, me empurrando para páginas em branco, desejosas do bailado macio de canetas em sapatilhas de ponta. Se faltar assunto, serve também olhar o calhamaço de folhas, guardanapos e pedaços de papéis anônimos que guardam textículos, fragmentos de idéias, idéias, frases e um ou outro pensamento escorregadio que ali caiu. Às vezes é quase impossível não anotar um pensamento. Quando estou muito enlouquecido, eles escapam dos meus ouvidos como nuvens de vapor; não tenho como vedá-los, e mesmo se quisesse, eles escapariam pelos meus dedos, quentes, gasosos e rarefeitos.

Mas esses não são mesmo os melhores. São quase impossíveis de registrar e duram quase nada na folha. Gosto dos que escorrem pelos ouvidos e dos que caem como maçãs maduras. Os que escorrem, encontro pela manhã, espalhados pelo travesseiro como decalques. Palavras, um punhado delas. Os sólidos, descem pelo pescoço, escorregam pelo ombro, contornam o cotovelo, guiam o punho, se apropriam da minha mão e me fazem escrevê-los todos. Até acabar. Até que o silêncio das juntas e cartilagens digam fim.

Tomo ar para começar.

Vou escrever um livro.

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