quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

2009

QUASE COISA

Durma-se com um barulho desses. Na cabeça uma ladainha de 12 meses que não cansa. O zumbindo intermitente dos ouvidos soa como bálsamo quando, distraída, a cacofonia de vozes, lamentos, lembranças melódicas e sussurros traiçoeiros descança temporariamente no fundo movediço do meu córtex dormente. Queria ser outro, queria ser parecido comigo novamente.

Queria que saísse de mim toda essa pele que não me serve mais. Unhas, escamas, dentes e penas também. Esse ano impregnado como lodo, essa quase fé, quase esperança enevoada, indo e voltando sem nunca se mostrar completamente. E o gosto de nicotina rejeitada emplastrado nas papilas degustativas cansadas de dizer quero, não quero.

Nunca dormi tão bem. Talvez por querer dormir sem parar. Apagar os dias e vivenciar o vão entre dormir e estar acordado me sentindo inteiro, apto, disposto e confiante. Esse ano saindo como um escarro que não me deixa respirar. Essa quase coisa que me prende e me deprime e me enoja e me choca e me assusta. Daí fazer o amor (?) parecer com algo indecifrável e ameaçador. Talvez não tenha aprendido nada. Talvez seja só isso mesmo. Ou mais: tentar achar sentido numa coisa que simplesmente não faz nenhum.

Cachorro atrás do rabo, insetos em volta da lâmpada.

Não, obrigado.