quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

2009

QUASE COISA

Durma-se com um barulho desses. Na cabeça uma ladainha de 12 meses que não cansa. O zumbindo intermitente dos ouvidos soa como bálsamo quando, distraída, a cacofonia de vozes, lamentos, lembranças melódicas e sussurros traiçoeiros descança temporariamente no fundo movediço do meu córtex dormente. Queria ser outro, queria ser parecido comigo novamente.

Queria que saísse de mim toda essa pele que não me serve mais. Unhas, escamas, dentes e penas também. Esse ano impregnado como lodo, essa quase fé, quase esperança enevoada, indo e voltando sem nunca se mostrar completamente. E o gosto de nicotina rejeitada emplastrado nas papilas degustativas cansadas de dizer quero, não quero.

Nunca dormi tão bem. Talvez por querer dormir sem parar. Apagar os dias e vivenciar o vão entre dormir e estar acordado me sentindo inteiro, apto, disposto e confiante. Esse ano saindo como um escarro que não me deixa respirar. Essa quase coisa que me prende e me deprime e me enoja e me choca e me assusta. Daí fazer o amor (?) parecer com algo indecifrável e ameaçador. Talvez não tenha aprendido nada. Talvez seja só isso mesmo. Ou mais: tentar achar sentido numa coisa que simplesmente não faz nenhum.

Cachorro atrás do rabo, insetos em volta da lâmpada.

Não, obrigado.


sábado, 10 de outubro de 2009

POW! WOW!

"U can find me in da club...

LIL' KID


Fico pensando em alguma música que pudesse postar aqui a sua letra e me abster do compromisso de escrever aqui algo inteligente, perspicaz ou engraçadinho. Não pensei em música melhor que não escrever nenhuma letra de música. Nos últimos meses enfrentei uma persistente turbulência em todos os aspectos da minha vida. Já nem sabia direito como me chocar com tantos obstáculos à frente. Cúmulos nimbos multiplicando-se como o vapor da chaleira que tantos litros de chá ferveu pra mim.

Hoje o horizonte está me parecendo mais limpo. Já posso ver um bocado de céu e vou em frente. A apatia se encolhe perto de uma vontade cada vez maior. Já não fico mais sob endredons pesados, amortecendo o mundo lá fora, quero voar. Trocadas as penas, bata asas.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

INTIMIDADE

Miranda July

MALLEUS MALEFICARUM

Fiz tudo num dia só: li algumas entrevistas do Lars Von Trier, tentei saber do que se tratava o filme e ao fim do dia, fui, hesitante, experimentar o Anticristo. Digo experimentar porque foi que senti ao me levantar da poltrona em direção às luzes lá fora. A sala de cinema ficou por um par de horas mais escura do que costuma ser e o silêncio dentro dela também surpreendeu. Por um pouco mais de uma centena de minutos o ar ficou mais denso, quase concreto.

Eu me surpreendi muito. Já nos primeiros minutos. Händell, preto e branco, sexo e um sexo balançando na nossa cara; pensei que o Sr. Von Trier não tem nenhum medo de correr riscos. A grandiloquencia desse prólogo exageradamente belo poderia facilmente ofuscar o que viria depois, pensei roendo unhas. Mas ele suprpreende, com uma câmera leeenta estetizada, forçando a gente a acreditar que ele realmente tá se levando a sério. Alguém disse numa das críticas que esse prólogo era uma chatice publicitária e eu acho que este desatento não sacou a fina ironia do Von Trier.

FEMALE TROUBLE

E desde o início também gostei da sensação boa de estar vendo um teatro. Os planos, os enquadramentos, o ritmo, o uso de elementos de outras linguagens e a própria narrativa é tudo teatro. A todo momento vinha alguma coisa a me lembrar de Artaud, Beckett, Strindberg, Jean Cocteau... Um monólogo em que o diretor é também ator ou está em cena. Senti um pouco disso no personagem do Willen Dafoe; tomando as rédeas dos sentimentos dela, guiando, orientando, dando prazos. E ela, se submetendo a uma relação hierárquica, dependente de aprovação a todo tempo.

Ao contrário de tudo que li antes sobre o filme, acho que é um filme de amor. Da natureza do amor como algo desconhecido e ameaçador. Um abismo. Negando o conhecimento pela experiência, a personagem entra no delírio de uma mênade enlouquecida, inflingindo-se toda espécie de castigos típicos de seus carrascos. Vingando-se dos seus algozes em si mesma, indo contra a natureza; sua natureza de mãe, de esposa e principalmente de mulher. E contar essa história da forma como ela é contada é um grandissíssimo mérito. Depois de uma breve bode do Sr. Von Trier, eu, satisfeito, volto a tê-lo como um dos meus prediletos.



THE FANTASTIC TAVERN

Durante a independência da Georgia de 11918-1921, Tbilisi, a capital, tornou-se a “Paris” do Leste, onde uma inspirada comunidade artística não só desenvolveu novas práticas artísticas como colaborativamente produziu incríveis obras de arte. Eu amo essa instalação cenográfica. Me lembra muito a Merzbau do Kurt Schwitters. Tá na minha listinha de referências de cenografia.

BLOODY FEELINGS

domingo, 28 de junho de 2009

BALKANS!

Minha nova obsessão: Música cigana dos Balcãs. Não paro de ouvir desde a semana passada, quando fui apresentado pro Shantel e seu Bucovina Club. Enjoy!







quinta-feira, 11 de junho de 2009

READING LESSON



ÂNIMO!


NO
MATTER

HOW BIG OR SOFT
OR
WARM

YOUR BED IS,
YOU STILL HAVE
TO GET OUT
OF IT.

MEU ROUXINOL



Tinha postado aqui o vídeo de Birdhouse do Thiago Pethit e não escondi minha grata surpresa e admiração pelo amigo cantante. Ele agora está com esse vídeo novo que é lindo de morrer. Amo muito!




Um clássico de Carlos Gardel que ele escondeu mas eu achei.

OLHA PRA MIM AGORA



Nunca pensei que uma tradução pudesse dizer tanto pra mim...Amanhã tem LOve SOngs no Bar. Vou tocar essa com certeza!

FIAT LUX!



Um mês passa rápido. Tenho estado bem ocupado nesses dias, com coisas muito boas de trabalho e coisas não tão palatáveis na cabeça e no coração. A vida ensina. "O tempo destrói tudo." Li isso nos créditos finais de algum filme que agora me foge da memória. Somente essa frase ficou e nem sei se concordo plenamente com ela, afinal o tempo é tão abstrato...

Hoje estava lendo uns artigos de astronomia e vi o quanto a gente - o universo - é indecifrado. Num certo momento, fiquei com a impressão de que vivemos num sonho, num delírio em que somente um fiapo de lucidez é alcançada. Talvez seja isso que faça a gente respirar e pensar e criar coisas magníficas ou grandiosas. Só um fiapo.

Sinto que estou movendo coisas no caldo cinzento onde se escondem alma e cérebro. Minhas certezas, minhas convicções são ora cauda de estrelas morimbundas sendo arrastadas pelo breu movediço de um buraco negro, ora o próprio buraco negro; engulindo tudo o que o desafia. De qualquer forma, trabalho o espírito para formar um Big Bang o quanto antes.

Crede mi.

terça-feira, 14 de abril de 2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

WHEN I GROW UP



O Jackson postou esse vídeo no FaceBook e eu achei a coisa mais linda do mundo. Veio num momento em que o que mais quero é ânimo. Animei.

terça-feira, 24 de março de 2009

DIVÃ

Uia, andei tão atarefado com minhas neuroses que quase esqueci de atualizar isso aqui. Tanta gente, tão pouco tempo...Tantas perguntas e só uma pessoa pra responder. Tô meio sociocoisa esses dias. Lembrei de uma música do Everything but the Girl 'and my life is just a image of a rollercoaster anyway...' Aff. Minha terapeuta me dispensou e me deu o telefone de uma mãe de santo. É sério, juro por Deus! Hahahaaha...demorei, demorei e quando liguei pra pedir um banho de ervas o telefone da fofa tava desligado. Que nem o da loja. Puta merda. Pelo menos tô processando a Telefônica e eles vão me dar um aquesh. Já a D. Nildes de Oxum...Até desencanei do banho de ervas...e da terapeuta. Tô mais alegre e mais organizado. Tentando ser mais disciplinado também. É difícil crescer como um indivíduo social, um cidadão com empresa aberta, conta jurídica e CNPJ. Um saco. Mas se a banda tá tocando assim, assim a gente dança. Mil projetos rolando, ocupando esse côco que não para um segundo. Às vezes é bem chato ficar dentro da minha cabeça. Eu falo muito. Salvos ficam os amigos que não escutam tamanha cacofonia de pensamentos pixelados e pop ups sem fim. Amém!


domingo, 8 de março de 2009

THIS IS YOUR LIFE

Where is the purpose in your life
Where is the truth
Do you remember your hopes Your dreams
They are no longer your own
This day is for loving your own life
Don't let this world capture your heart
Your passion lost to a thousand themes
Surrendered to the screen

This is not a story
This is not a book this is your life And this is not a play
Some TV show you've seen
This is reallife
You know that
This is your this is your li.fe
This is your this is your life
You act like a child
playing games now
Play and pretend the art of disguise Alone and lost in 011 your lies
This is not a story
This is not a book this is your life And this is not a play
Some TV show you've seen
This is reallife
You know that
This is your this is your life
This is real this is reallife
There is no rehearsal
No second chance
No false start no
better circumstances
This is not a story
This is not a book this is your life
And this is not a play
Some TV show you've seen
This is reallife
You know that
This is your this is your life
This is real this is your life
This is your this is your life
This is your life (repeat)

quinta-feira, 5 de março de 2009

SAÍDO DO FORNO

Eis que abriu o Z Carniceria! Mais um projeto deste que vos escreve está na praça para o deleite de boêmios insones. O Z nasce com DNA e estética bruta. Aproveitamos tudo que originalmente compunha o antigo Açougue Z nos idos dos anos 1950. Cada azulejo, cada gancho enferrujado, portas, maçanetas, o madeiramento do forro virou um lindo revestimento de parede e do bar. Nos pratos, delícias da cozinha bruta, comida de mãe e petiscos vintage. Nas pick ups, blues e o bluegrass, o jazz de New Orleans, o big band, o hillbilly, o psycobilly e o rende-vouz latino. Salve Z, seja bem vindo.

Algumas notas sobre o Z:
Aqui
Aqui
Aqui
Aqui
Aqui
Aqui
Aqui

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

MOTO






"TO OLD TO BE A CHILD STAR
TO YOUNG TO TAKE LEADS..."






terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"ELE VOLTOU...

O boêmio voltou novamente
Saiu daqui tão contente
Porque razão quer voltar?"

Com doze anos nas costas eu tinha horror a Nelson Gonçalves. E minha minha mãe o punha a cantar a todo pulmões nas tardes mais enfadonhas de domingo...

Quem diria que anos mais tarde eu iria adorá-lo e levaria minha mãe de surpresa a um de seus últimos shows. Foi mágico. E ele com seu copo curto e pesado cheio de uísque. Mas bebia com discrição e até com um certo pudor atrás das cortinas laterais da sala Villa-Lobos no Teatro Nacional de Brasília.

Quem diria que eu estaria escrevendo este post. Nem eu mesmo. Acho que senti necessidade de justificar o porquê do trecho da música que ele interpretava tão bem. Também pelo meu pai que era um misto de Nelson Gonçalves e algum personnagem de seriado policial com seus Ray Bans de lentes verdes e aros dourados. Ninguém chegava perto destes óculos lá em casa...

Não sei porque escrevo esse post. Talvez só pra estar escrevendo mesmo e lembrando de coisas que vão surgindo no digitar das teclas deste meu Mac cambaleante. Eu sempre penso num título pras coisas que escrevo e aí vou seguindo o mote.

Tinha pensado que iria escrever sobre a minha volta a Brasília e minha volta de Brasília no último mês. Mas não. Vieram outras coisas...Vai ver estou virando alguma espécie de escriba psicográfico. Sei lá.

É o que tem pra hoje...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

OS NÓS

Não sou eu. Não. Não é o que fora. Pausa. Nó seco na garganta. Elixir de alguma boa vontade evapora volátil entre encostas rugosas. Era para ser mais. Era para ser maior que nós. Escrevo para não correr sem rumo sobre pés vacilantes. Escrevo porque ainda sobra algo em mim que quer dizer alguma coisa. Para mim mesmo, talvez. Só a neurolinguística fajuta de charlatões salva. Santificados sejam os achismos de toda espécie, os "mas eu pensei que", as urgências intolerantes e o comodismo fácil de achar que é sempre melhor poupar o outro de algum incômodo. O preço que se paga por isso é só um detalhe.

E não é por isso que a maravilhosa gente humana que vive como cães vai parar de se multiplicar. E sofrer por amor, por comida, por sexo, por dor de dente. É isso que torna a gente humano, afinal.

Parabéns.

Difícil é desatar os nós.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

VINHETA


Já tinha esquecido de como é amplo o horizonte aqui em Brasília. Vemos tudo em 360º. O céu é tão bonito, pena que nestes dias nublados, pouco se veja do por do sol. Da janela da minha gaiola, vejo o mastro da Bandeira, o Congresso Nacional e a Esplanada dos Ministérios. Um silêncio só perturbado pelos piados, assovios, grasnados dos pássaros libertos, abundantes do lado de fora.

E esse horizonte perturbador me encarando. Aqui no meio do país, nesse semi-árido, nesse planalto, olhar o horizonte é como estar no meio do mar. A única certeza é de onde estão os nossos pés; o resto é silêncio. No pouco tempo que me sobra sozinho, fora da confusão de rádios, celulares e telefones, prefiro ficar mudo, sem a companhia de som de nenhuma forma.

"A palavra é de prata e o silêncio é de ouro.", li uma vez num livro de bolso.

Guardei.

Até hoje.

Ponto.

sábado, 17 de janeiro de 2009

ANTES DISSO TUDO ACONTECER EU ERA O SUPER-HOMEM


Antes de ser quem eu era hoje, pensei que talvez todas as dúvidas do mundo pudessem se encerrar num punhado de areia seca escorrendo pelos meus dedos. Mas não. Elas surgem e proliferam como um vapor denso, como nuvens; nunca sabemos ao certo de onde elas veem. Agora, sentado no trono intangível e enevoado de uma ausência, vejo - ou tento ver em meio ao nevoeiro - que minha força, meus super-poderes se foram. Eu era algo mais que um capítulo de uma história de amor. História de amor é um pretexto pra outras histórias. O meio, nunca o fim.

Depois de uma crise, a experiência aparece como uma faixa de Miss Simpatia que ninguém almeja; surge como um prêmio de consolação tardio depois de um esforço hercúleo para se ter, entender, compartilhar e manter uma relação. Em meio aos personagens interpretados e desejosos de audiência, história de amor é um livro, uma música.

Aliso a testa franzida e tensa com as costas da mão e pisco em câmera lenta. Adormece algo em mim. Meus olhos tateiam o ar concreto sem distinguir nada à frente. Minha visão. Minhas mãos. Meu dicernimento.

Delete.

História de amor é epílogo moto-perpétuo, ó Super-Homem.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

MIS OJOS SE CERRARON



Tô ouvindo um Gardel revoltado e pensando, pensando, pensando. Esta tarde cisma em não começar e fica esse forno purgatório de qualquer delicadeza de pensamento. Derretendo boas intenções, decisões e vinganças frias. Nada. Só a testa latenjando num bate-estaca de uma nota só..."quero, não quero, vou, não vou..." E insiste, insiste, insiste em monopolizar estas pobres ligações neurais. "...por una cabeza..." Gardel, amigo, ajuda-me. Esta tarde é só o que há entre mim e o vazio...Caminito...

Repousa em intocável paz a memória que tinha do que era solitude.