segunda-feira, 31 de agosto de 2009

INTIMIDADE

Miranda July

MALLEUS MALEFICARUM

Fiz tudo num dia só: li algumas entrevistas do Lars Von Trier, tentei saber do que se tratava o filme e ao fim do dia, fui, hesitante, experimentar o Anticristo. Digo experimentar porque foi que senti ao me levantar da poltrona em direção às luzes lá fora. A sala de cinema ficou por um par de horas mais escura do que costuma ser e o silêncio dentro dela também surpreendeu. Por um pouco mais de uma centena de minutos o ar ficou mais denso, quase concreto.

Eu me surpreendi muito. Já nos primeiros minutos. Händell, preto e branco, sexo e um sexo balançando na nossa cara; pensei que o Sr. Von Trier não tem nenhum medo de correr riscos. A grandiloquencia desse prólogo exageradamente belo poderia facilmente ofuscar o que viria depois, pensei roendo unhas. Mas ele suprpreende, com uma câmera leeenta estetizada, forçando a gente a acreditar que ele realmente tá se levando a sério. Alguém disse numa das críticas que esse prólogo era uma chatice publicitária e eu acho que este desatento não sacou a fina ironia do Von Trier.

FEMALE TROUBLE

E desde o início também gostei da sensação boa de estar vendo um teatro. Os planos, os enquadramentos, o ritmo, o uso de elementos de outras linguagens e a própria narrativa é tudo teatro. A todo momento vinha alguma coisa a me lembrar de Artaud, Beckett, Strindberg, Jean Cocteau... Um monólogo em que o diretor é também ator ou está em cena. Senti um pouco disso no personagem do Willen Dafoe; tomando as rédeas dos sentimentos dela, guiando, orientando, dando prazos. E ela, se submetendo a uma relação hierárquica, dependente de aprovação a todo tempo.

Ao contrário de tudo que li antes sobre o filme, acho que é um filme de amor. Da natureza do amor como algo desconhecido e ameaçador. Um abismo. Negando o conhecimento pela experiência, a personagem entra no delírio de uma mênade enlouquecida, inflingindo-se toda espécie de castigos típicos de seus carrascos. Vingando-se dos seus algozes em si mesma, indo contra a natureza; sua natureza de mãe, de esposa e principalmente de mulher. E contar essa história da forma como ela é contada é um grandissíssimo mérito. Depois de uma breve bode do Sr. Von Trier, eu, satisfeito, volto a tê-lo como um dos meus prediletos.



THE FANTASTIC TAVERN

Durante a independência da Georgia de 11918-1921, Tbilisi, a capital, tornou-se a “Paris” do Leste, onde uma inspirada comunidade artística não só desenvolveu novas práticas artísticas como colaborativamente produziu incríveis obras de arte. Eu amo essa instalação cenográfica. Me lembra muito a Merzbau do Kurt Schwitters. Tá na minha listinha de referências de cenografia.

BLOODY FEELINGS