quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

VINHETA


Já tinha esquecido de como é amplo o horizonte aqui em Brasília. Vemos tudo em 360º. O céu é tão bonito, pena que nestes dias nublados, pouco se veja do por do sol. Da janela da minha gaiola, vejo o mastro da Bandeira, o Congresso Nacional e a Esplanada dos Ministérios. Um silêncio só perturbado pelos piados, assovios, grasnados dos pássaros libertos, abundantes do lado de fora.

E esse horizonte perturbador me encarando. Aqui no meio do país, nesse semi-árido, nesse planalto, olhar o horizonte é como estar no meio do mar. A única certeza é de onde estão os nossos pés; o resto é silêncio. No pouco tempo que me sobra sozinho, fora da confusão de rádios, celulares e telefones, prefiro ficar mudo, sem a companhia de som de nenhuma forma.

"A palavra é de prata e o silêncio é de ouro.", li uma vez num livro de bolso.

Guardei.

Até hoje.

Ponto.

sábado, 17 de janeiro de 2009

ANTES DISSO TUDO ACONTECER EU ERA O SUPER-HOMEM


Antes de ser quem eu era hoje, pensei que talvez todas as dúvidas do mundo pudessem se encerrar num punhado de areia seca escorrendo pelos meus dedos. Mas não. Elas surgem e proliferam como um vapor denso, como nuvens; nunca sabemos ao certo de onde elas veem. Agora, sentado no trono intangível e enevoado de uma ausência, vejo - ou tento ver em meio ao nevoeiro - que minha força, meus super-poderes se foram. Eu era algo mais que um capítulo de uma história de amor. História de amor é um pretexto pra outras histórias. O meio, nunca o fim.

Depois de uma crise, a experiência aparece como uma faixa de Miss Simpatia que ninguém almeja; surge como um prêmio de consolação tardio depois de um esforço hercúleo para se ter, entender, compartilhar e manter uma relação. Em meio aos personagens interpretados e desejosos de audiência, história de amor é um livro, uma música.

Aliso a testa franzida e tensa com as costas da mão e pisco em câmera lenta. Adormece algo em mim. Meus olhos tateiam o ar concreto sem distinguir nada à frente. Minha visão. Minhas mãos. Meu dicernimento.

Delete.

História de amor é epílogo moto-perpétuo, ó Super-Homem.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

MIS OJOS SE CERRARON



Tô ouvindo um Gardel revoltado e pensando, pensando, pensando. Esta tarde cisma em não começar e fica esse forno purgatório de qualquer delicadeza de pensamento. Derretendo boas intenções, decisões e vinganças frias. Nada. Só a testa latenjando num bate-estaca de uma nota só..."quero, não quero, vou, não vou..." E insiste, insiste, insiste em monopolizar estas pobres ligações neurais. "...por una cabeza..." Gardel, amigo, ajuda-me. Esta tarde é só o que há entre mim e o vazio...Caminito...

Repousa em intocável paz a memória que tinha do que era solitude.